Início do cabeçalho do portal da UFERSA

Projeto Caatinga

A Fenologia avalia as modificações nas etapas do crescimento e desenvolvimento das plantas, tanto vegetativa como reprodutiva, identificando as épocas de ocorrência das fases e as características observadas nas mesmas (CÂMARA, 2006). O termo em questão refere-se a eventos biológicos repetitivos que ocorrem nas plantas ao longo do ano, sendo possível a correlação desses eventos com variáveis bióticas e abióticas (FERRAZ et al., 1999). Desse modo, a temperatura, a qualidade do solo, a precipitação, a intensidade de radiação, o fotoperíodo e a presença ou ausência de animais dispersores e predadores de frutos e sementes podem ser associados às fenofases floração, frutificação, queda e brotamento de folhas (PEDRONI et al., 2002). Portanto, pesquisas que objetivam a caracterização das fenofases vegetais são primordiais para a compreensão do desempenho das populações de plantas (SPINA et al., 2001).

Observações fenológicas são essenciais uma vez que contribuem para o conhecimento funcional dos ecossistemas florestais. As informações quanto a época de atividades reprodutivas e vegetativas das espécies vegetais em uma comunidade auxiliam no entendimento de como as plantas respondem a variáveis ambientais, principalmente clima. A competição dos agentes polinizadores durante a floração, o efeito da herbívoria no brotamento e a acessibilidade de recursos para os animais, estão associados a estudos fenológicos (ENGEL, 2001).

A fenologia é de fundamental importância para o manejo sustentável das florestas. O entendimento dos estádios de crescimento, produção e renovação foliar das espécies e da comunidade como um todo é significativo para a compreensão dos processos dinâmicos da floresta, bem como da ciclagem de nutrientes, subsidiando estimativas dos ciclos de cortes e dos impactos do manejo (ENGEL, 2001). Os estudos do período de colheita necessitam, de forma indispensável, do entendimento sobre fenologia (JUBILEU et al., 2010). Além disso, a estimativa de duração das diferentes fases fenológicas e as condições térmicas permitem o reconhecimento do ciclo das plantas que apresentam frutos com maturação precoce ou tardia (FERREIRA et al., 2004; SATO et al., 2008).

Para se compreender o desenvolvimento das espécies vegetais e dos ecossistemas florestais são realizados levantamentos fenológicos, que colaboram e são bastante úteis para o estudo de ecologia e evolução dos trópicos (FOURNIER e CHARPANTIER, 1975).

A ausência ou escassez de informações sobre eventos fenológicos se deve ao período mínimo de um ano exigido para a obtenção de resultados confiáveis, bem como a precisão e a pontualidade desse acompanhamento. Existe grande variabilidade na floração das espécies da caatinga. Algumas espécies ficam sem florescer por até dois anos, como afirma Machado et al (1997). Alem disso, de todos os biomas brasileiros, a Caatinga se apresenta como um dos mais desconhecidos botanicamente (GIULIETTI, 2003) e, no que diz respeito à fenologia de espécies lenhosas, os levantamentos se resumem a poucos estudos de casos (DUQUE, 1973; MOURA, 2007).

O semiárido nordestino se estende por uma área aproximada de 910 mil km², e é caracterizado pelas elevadas taxas de incidência de radiação solar e escassez de precipitação hídrica sendo, nesse último caso, irregulares e mal distribuídas (FERNANDES, 1992). Esses eventos conduzem a um comportamento onde, no contexto geral, os padrões fenológicos principais da caatinga são brotamento e floração, que correspondem ao período da estação chuvosa, a senescência foliar que coincide com a estiagem e a frutificação que ocorre em conformidade com a síndrome de dispersão das espécies (MACHADO et al. 1997; BARBOSA et al. 2003). Contudo, observa-se dentro da comunidade a organização das fenofases ao longo do ano.

A maioria das árvores e arbustos da caatinga perdem as folhas na época seca, devido a possuírem um mecanismo de adaptação a seca, sendo, portanto, chamadas de caducifólias (ARAÚJO FILHO e CARVALHO, 1998).

Estudos fenológicos, de forma geral, fornecem informações diversas e integram aquelas inerentes aos estádios de desenvolvimento e reprodução vegetal, bem como de disponibilidade de recursos para a fauna (MORELLATO e LEITÃO-FILHO, 1992).

Para compreensão da complexidade do Bioma Caatinga poucos estudos fenológicos vêm sendo realizados e apresentam inúmeros objetivos.

Amorim et al. (2009) analisando a fenologia de espécies lenhosas da caatinga do Seridó-RN, descobriram que locais com pouca diversidade de espécies vegetais podem indicar complexidade nos padrões fenológicos das comunidades, em essência à floração e frutificação, não tornando essas áreas menos importantes que às com maior diversidade.

Com o intuito de levantar informações fenológicas sobre espécies com potencial medicinal em Pernambuco Souza et al. (2012) verificaram que a obtenção de flores e frutos do marmeleiro e da queda foram diretamente influenciadas pelos índices pluviométricos.

Pereira et al. (1989) pesquisando sobre a fenologia de espécies florestais de interesse apícola, no Estado do Ceará, concluíram que a diferença das fenofases na caatinga podem sustentar as atividades apícolas durante todo o ano, havendo sempre espécie florestal em floração abundante. A jurema preta tem sua florada nos primeiros meses de seca, seguida pelo angico e por fim pelo juazeiro.

Neves et al. (2010) em uma área de caatinga na Estação Biológica de Canudos, observaram que três espécies de Jatropha (Euphorbiaceae) possuem alta aptidão de armazenamento de água em seus tecidos e, consequentemente, essa capacidade pode ter influenciado na manutenção dos eventos fenológicos, mesmo na ausência de precipitação. Outra observação foi que a espécie de menor porte obteve maior carência de chuva para produzir folhas, quando comparada às demais.

Objetivando investigar o comportamento fenológico de cinco espécies de Euphorbiaceae em Canindé do São Francisco – SE, Leal et al. (2007) concluíram que os padrões fenológicos também fugiram as regras gerais da vegetação da caatinga, apresentando alguns indivíduos com folhas, flores ou frutos o ano todo, fato que favorece a fauna polinizadora e herbívora.

Projeto Caatinga possui uma equipe responsável pelo acompanhamento fenológico de indivíduos arbóreos de 15 espécies nativas do bioma Caatinga. A fenologia estuda os eventos biológicos que se repetem ao longo do ano e que resumem o ciclo de vida das plantas. Tais eventos são chamados de fenofases: floração, frutificação, desfolhamento e brotação. O acompanhamento fenológico de espécies arbóreas, que deve ser realizado por no mínimo 1 ano, possibilita a identificação (ocorrência) e a quantificação (intensidade) das fenofases permitindo assim um melhor entendimento dos processos que ocorrem na comunidade florestal.

O produto de acompanhamentos fenológicos são os calendários fenológicos que permitem, por exemplo, planejar atividades de coleta de sementes para produção de mudas.

A coleta de dados em campo segue o seguinte protocolo:

  • Visitas a campo para determinação dos indivíduos a serem acompanhados, tendo como critério de escolha, árvores vigorosas;
  • Escolha de 10 indivíduos por espécie;
  • Sistematização dos indivíduos utilizando distância “mínima” de 20m um do outro.
  • Coleta de dados primários de cada indivíduo:
    • Localização com o auxílio de um Sistema de Posicionamento Global (GPS);
    • Diâmetro a altura do solo (DAS – medido 30 cm acima do solo);
    • Altura total (Ht); e
    • Área de copa (Ac).
  • Marcação das árvores selecionadas com fitas de cor bem visível em meio à vegetação;
  • Coleta de dados fenológicos:
    • Escolha de dois galhos, com o auxílio de uma bússola, referente a cada ponto cardeal (Norte, Sul, Leste e Oeste), em que um galho estará disposto na parte inferior da copa e o outro na parte superior da copa, sendo sua escolha de forma aleatória;
    • Observações quinzenais (organizar cronograma);
    • Fenofases observadas: Floração, frutificação, desfolhamento e brotação;
    • Critério na coleta de dados das fenofases Floração e frutificação serão os mesmos, onde haverá a contagem em relação à quantidade real, para cada galho selecionado (uso de binóculo para flores pequenas ou localizadas em galhos altos), referente a cada evento fenológico.
    • Critério na coleta de dados das fenofases desfolhamento e brotação baseados na intensidade do evento fenológico, expressa em porcentagem (subjetivo).
    • Uso de formulários específicos.

 

Referências

AMORIM, Isaac Lucena deSAMPAIO, Everardo Valadares de Sá Barreto and  ARAUJO, Elcida de Lima. Fenologia de espécies lenhosas da caatinga do Seridó, RN. Rev. Árvore [online]. 2009, vol.33, n.3, pp.491-499.

ARAÚJO FILHO, João Ambrósio de; CARVALHO, Fabianno Cavalcante de. Fenologia e valor nutritivo de espécies lenhosas caducifólias da caatinga. Sobral – CE: Embrapa, 1998. 5 p.

Barbosa, D. C. A, Barbosa, M. C. A., & Lima, L. C. M. 2003. Fenologia de espécies lenhosas de caatinga In: Leal IR, Tabarelli M, Silva JMC (Eds.) Ecologia e conservação da Caatinga, Editora Universitária (UFPE), Recife, pp.657- 693.

CÂMARA, G. M. S. Fenologia é ferramenta auxiliar de técnicas de produção.  Visão agrícola, 2006, Piracicaba, SP.

CESTARO, L. A., G. F. C. LIMA, M. E. FREITAS & J. D. O. FREITAS. 1989. Caracterização fenológica de algumas espécies arbustivo-arbóreas da Caatinga do Seridó Norte-Rio-Grandense. Pp 88 in: Anais do XL Congresso Nacional de Botânica, Cuiabá, Brasil.

CROAT, T.B. 1969. Seasonal flowering behavior in Central Panama. Ann. Missouri Bot. Gard. 56: 295-307.

Dias, H. C. T. 1995. Fenologia de quatro espécies arbóreas e variação temporal e espacial da produção de serrapilheira em uma área de floresta estacional semidecidual montana em Lavras, MG. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal de Lavras, Lavras.

DUQUE, J. G. 1973. O Nordeste e as lavouras xerófilas. 2ª edição. Banco do Nordeste, S. A., Fortaleza.

ENGEL, V. L. Estudo fenológico de espécies arbóreas de uma floresta tropical em Linhares, ES. Campinas, S. P. [s. n.], 2001. 137f: ilus.

FERRAZ, D. K. et al. Fenologia de árvores em fragmentos de mata em São Paulo, SP. Revista Brasileira de Biologia, v.59, n.2, p.305-317, 1999.

FERREIRA, E. A. et al. Antecipação de safra para videira Niágara Rosada na região Sul do Estado de Minas Gerais. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 28, n. 6, p. 1221-1227, 2004.

FERNANDES, A. Biodiversidade do semi-áridonordestino. In: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ESSÊNCIAS NATIVAS – CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE, 2., 1992, São Paulo. Anais… São Paulo: Instituto Florestal, 1992. p. 119-124.

FOURNIER, L.A. & CHARPANTIER, C. 1975. El tamaño de la muestra y la frecuencia de las observaciones en el estudio de las características fenológicas de los arboles tropicales. Turrialba 25: 45-48.

Fournier, L. A. O. 1974. Un método cuantitativo para la medición de características fenológicas em árboles. Turrialba, 24: 422-423.

GIULIETTI, A. M. et al. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (Org.). Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, Universidade Federal de Pernambuco, 2003. 382 p.

JUBILEU, B. S.; SATO, A. J.; ROBERTO, S. R. Caracterização fenológica e produtiva das videiras Cabernet Sauvignon‟ e Alicante‟ (Vitis vinifera L.) produzidas fora de época no Norte do Paraná. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v. 32, n. 2, p. 451-462, 2010.

LEAL, I. R.; PERINI, M. A. CASTRO, C. C. de. Estudo fenológico de espécies de euphorbiaceae em uma área de caatinga. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu – MG.

Machado, I. C., Barros, L. M. & Sampaio, E. V. S. B.. 1997. Phenology of caatinga species at Serra Talhada, PE, Northeastern Brazil. Biotropica 29: 57-68

MOURA, A. C. A. Primate group size and abundance in the caatinga dry forest. Internacional Journal of Primatology, v.28, n.6, p.1279-1297, 2007.

NEVES, Edinaldo Luz dasFUNCH, Ligia Silveira  and  VIANA, Blandina Felipe. Comportamento fenológico de três espécies de Jatropha(Euphorbiaceae) da Caatinga, semi-árido do Brasil. Rev. bras. Bot.[online]. 2010, vol.33, n.1, pp.155-166.

Pedroni, F., Sanchez, M. & Santos, F. A. M. 2002. Fenologia de copaíba (Copaifera langsdorfii Desf. Leguminosae, Caesalpinioideae) em uma floresta semidecídua no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Botânica, 25: 183-194.

Piña-Rodrigues, F. C. M. & Piratelli, J. A. 1993. Aspectos ecológicos da produção de sementes. In: Aguiar, I. B.; PiñaRodrigues, F. C. M. & Figliolia, M. B. (Ed.). Sementes florestais tropicais. Brasília, ABRATES, pp. 47-82.

PEREIRA, R. M. de A. ARAUJO FILHO, J. A. de. LIMA, R. V. LIMA, A. O. N. ARAUJO, Z. B. de. Estudos fenológicos de algumas espécies lenhosas e herbáceas da caatinga. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 20, n. 1, p. 11-20, jun./dez., 1989.

SATO, A. J. et al. Fenologia e demanda térmica das videiras Isabel e Rubea sobre diferentes porta-enxertos na região norte do Paraná. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 29, n. 2, p. 283-292, 2008.

SOUZA, R. de C,; KILL, L. H. P.; ARAÚJO, J. L. P. 2012. Fenologia de espécies nativas da caatinga de potencial medicinal na região de petrolina PE. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA SEMIÁRIDO, 7.; JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FACEPE/UNIVASF, 1., 2012, Petrolina. Anais… Petrolina: Embrapa Semiárido, 2012.

SPINA, P. A.; Ferreira, W. M. & Leitão-Filho, H. M. 2001. Floração, frutificação e síndromes de dispersão de uma comunidade de floresta de brejo na região de Campinas (SP). Acta Botanica Brasilica, 15: 349-368.

27 de dezembro de 2018. Visualizações: 3519. Última modificação: 12/04/2021 10:08:06