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Projeto Caatinga

Levantamentos florísticos e fitossociológicos no Bioma Caatinga

O Bioma Caatinga se apresenta bastante heterogêneo no que diz respeito a aspectos florísticos e fisionômicos. A região semiárida do Nordeste brasileiro, onde se encontra a Caatinga, é caracterizada pela heterogeneidade de condições naturais de clima, solo, topografia e vegetação, dando forma a um verdadeiro mosaico de ecossistemas únicos, sendo necessária a obtenção de conhecimentos específicos para o seu manejo (MENEZES et al., 2005). Devido a esta peculiaridade, diferentes classificações foram propostas por vários autores para sua vegetação diante da dificuldade de enquadrá-la em um único tipo funcional (RODAL 1992).

Entre as classificações propostas para o bioma destaca-se Luetzelburg (1922/23), pois este reconhece que a Caatinga apresenta vários tipos florísticos e fisionômicos e a divide em Caatinga arbustiva, subdividida em nove grupos e Caatinga arbórea em três grupos, considerando suas associações florísticas dominantes. Já Fernandes e Bezerra (1990) propõem uma classificação mais simples onde enquadraram “as Caatingas” em dois tipos: arbórea e a arbustiva/subarbustiva.

Para conhecimento de tão complexo bioma, estudos florísticos e fitossociológicos vem sendo realizados com os mais diversos objetivos.

De acordo com Alcalá et al. (2006), um levantamento florístico fornece uma lista das espécies que podem ser utilizadas, por exemplo, em programas de recuperação da matas ciliares e áreas adjacentes, importantes na conservação dos recursos hídricos.

Segundo Pessoa et al. (2009), dados florísticos possuem evidente importância, pois por meio da identificação das espécies vegetais presentes em determinada formação vegetal, é possível verificar e conhecer a estrutura taxonômica e o estado de conservação de determinado domínio, auxiliando a compreensão das relações ecológicas estabelecidas entre a vegetação e os demais elementos da biota, bem como a comparação dela com outras áreas floristicamente semelhantes ou não, entre si.

Os primeiros estudos da vegetação eram meramente qualitativos (florísticos) por meio de descrições escritas, desenhos e listas de espécies para caracterizar as diferentes vegetações e biomas do mundo. Com o tempo surgiu a necessidade de informações quantitativas sobre a estrutura (fitossociologia) de cada tipo de vegetação para permitir comparações de melhor qualidade (MARTINS, 2003).

A fitossociologia é o ramo da Ecologia Vegetal mais amplamente utilizado para diagnóstico quali-quantitativo das formações vegetacionais (ALCOFORADO-FILHO, SAMPAIO e RODAL, 2003). Martins (1989) define o termo citado anteriormente como a ecologia que quantifica comunidades vegetacionais, envolvendo relações inter-especificas de espécies vegetais no espaço e no tempo, ou seja, trata-se de uma ciência quantitativa da composição florística, estrutura, funcionamento, dinâmica, distribuição e relações ambientais da comunidade vegetacional, tendo como base fundamental a taxonomia vegetal, mantendo relações estreitas com a fitogeografia e as ciências florestais.

O estudo fitossociológico fornece informações sobre a estrutura da comunidade de uma determinada área e sobre possíveis afinidades entre espécies ou grupos de espécies, alem de ampliar informações sobre vegetação nativa lenhosa de diferentes estruturas, podendo avaliar de forma instantânea, varias estruturas da vegetação como: freqüência, densidade e dominância das espécies (SILVA et.al., 2002).

O avanço dos trabalhos fitossociológicos no Brasil, tem sido de grande relevância para a caracterização da alta biodiversidade existente nos mais diferentes biomas, procurando analisar parte da estrutura da vegetação, principalmente o seu componente dominante, com base na amostra de árvores, a partir de critérios de inclusão que são muito variados, mesmo considerando-se o mesmo bioma (SILVA et al., 2002).

Moro et al. (2015), compilando levantamentos florísticos e fitossociológicos realizados no Domínio do Semiárido Brasileiro (DSB), registraram 120 artigos em periódicos que apresentavam 150 levantamentos, além de 17 artigos em boletins técnicos, 21 livros ou capítulos de livros e 92 teses e dissertações. Ressalta-se que os autores registraram trabalhos realizados no período de 1969 até o ano de 2011 e que os mesmos citam que as pesquisas começaram a se fortalecer somente na década de 1990.

Cronologicamente, levantamentos quantitativos na Caatinga, objetivando descrever e caracterizar as matas xerofíticas do Nordeste, tiveram início a partir de uma série de inventários florestais feitos pela SUDENE por Tavares et al. (1969a e b, 1970, 1974a e b, 1975), abrangendo várias áreas: sertão de Pernambuco, Vale do Jaguaribe, no Ceará, e bacia dos rios Piranhas e Açu, na Paraíba e no Rio Grande do Norte (PEREIRA, 2000). Desde então, trabalhos relacionando dados florísticos a fitossociológicos vem sendo realizados em todo a região nordeste que abrange o bioma Caatinga (FERRAZ et al., 1998, PEREIRA JÚNIOR, ANDRADE e ARAÚJO, 2012; BESSA e MEDEIROS, 2011; COSTA et al., 2015).

A região semiárida do estado de Pernambuco se destaca no que diz respeito ao número de estudos florísticos e fitossociológicos realizados (RODAL, 1992; SANTOS et al. 1992; FERRAZ 1994; RODAL et al. 1998; 1999; FIGUEIRÊDO et al. 2000; ALCOFORADO-FILHO et al. 2003 entre outros). Moro (2013) confirma em sua tese de doutorado que o estado com maior número de levantamentos publicados em periódicos é Pernambuco, com 46 levantamentos, seguido da Paraíba (33), Rio Grande do Norte (19), Ceará e Bahia (18 cada), Minas Gerais (9) e Piauí (7). O autor não encontrou levantamentos publicados em periódicos (até 2011) para o Domínio Fitogeográfico da Caatinga em Alagoas, Sergipe e Maranhão.

Os levantamentos florísticos e fitossociológicos no bioma Caatinga são muito diversificados quando se trata de critérios de amostragem, o que limita as comparações, mas, no entanto revelam que nesse tipo de vegetação a densidade e área basal variam de 459 a 7015ind/ha-1 e 2,38 a 50,32m²ha-1 respectivamente (ANDRADE, FABRICANTE E ARAÚJO, 2011).

Rodal (1992) abordou aspectos florísticos e fitossociológicos em sua tese de doutorado onde investigou a vegetação arbustivo-arbórea em quatro áreas de Caatinga em Pernambuco.

Santos et al. (1992), comparou as semelhanças vegetacionais em sete solos da Caatinga no estado de Pernambuco.

Para caracterizar a composição florística da vegetação ocorrente nas altitudes de 1100, 900, 700 e 500 m, Ferraz et al. (1998) estudaram quatro áreas do vale do Pajeú, em áreas dos municípios de Triunfo e Serra Talhada, PE, e encontraram 159 espécies distribuídas em 101 gêneros e 45 famílias. As famílias com maior número de espécies na cota de 1100 m foram Myrtaceae, Flacourtiaceae e Rubiaceae; na cota de 900 m, Asteraceae, Myrtaceae e Mimosaceae; na de 700 m, Euphorbiaceae, Mimosaceae, Caesalpiniaceae e Anacardiaceae; e na de 500 m, Mimosaceae, Euphorbiaceae e Caesalpiniaceae.

Com o objetivo de estudar a vegetação lenhosa das chapadas sedimentares do sertão de Pernambuco, Rodal et al. (1998), realizaram a caracterização fisionômica e a análise da estrutura da vegetação arbustiva perenifólia no município de Buíque, em 100 pontos quadrantes, distribuídos em 10 linhas paralelas, interdistantes 30m, cada uma, com 10 pontos.

Rodal et al. (1999) em um trecho de vegetação arbustivo caducifólia em Ibirimim, identificaram a estrutura e realizaram comparações florísticas com outras formações vegetacionais nordestinas, especialmente aquelas localizadas no semiárido. Foram listados 139 espécies distribuídas em 92 gêneros e 39 famílias. Desse total, 18,7% são árvores, 48,2% arbustos e subarbustos, 12,2% ervas, 16,5% trepadeiras e/ou lianas e 4,4% epífitas. Analisando 831 espécies registradas em 15 levantamentos florísticos realizados em 19 áreas nos estados do Ceará, Pernambuco, Piauí e Sergipe, os autores concluíram que ocorreu um maior número de espécies em comum em levantamentos nas chapadas sedimentares e Caatingas existentes no cristalino.

Estudando uma área de vegetação arbustiva caducifólia de um trecho de vegetação em Buíque, PE, Figueirêdo et al. (2000) encontrou uma flora típica de solos arenosos e profundos, de tipos caducifólios ou espinhosos. No mesmo município Gomes et al. (2006) verificou que a área podia ser considerada como um ecótono entre os tipos caducifólios espinhosos “Caatinga” e não espinhosos “carrasco” das chapadas sedimentares. Florísticamente, os referidos autores concluíram que a vegetação era típica das diferentes formações vegetacionais caducifólias espinhosas do semiárido.

Alcoforado-Filho et al. (2003), realizou levantamento florístico e fitossociológico de uma área do município de Caruaru, Pernambuco, onde foram amostradas, dentro de 36 parcelas, 55 espécies distribuídas em 41 famílias. Considerando espécies fora das parcelas foram amostradas e coletadas nesse levantamento 96 espécies.

Barbosa et al. (2012), realizaram pesquisa da composição florística e dos parâmetros fitossociológicos das espécies arbóreas e arbustivas que compõem um fragmento de Caatinga hipoxerófila no Município de Arcoverde, PE. Como resultado encontraram 1.491 indivíduos vivos, distribuídos em 36 espécies arbóreo-arbustivas, 19 famílias e 31 gêneros.

Fabricante e Andrade (2007) estudaram a estrutura da vegetação em área de Caatinga no Seridó Paraibano e registraram 2368 indivíduos, 8 famílias, 15 gêneros e 22 espécies, sendo as famílias Fabaceae e Euphorabiaceae e as espécies Croton sonderianus Mull. Arg., Caesalpinia pyramidalis Tul., Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles & G.D. Rowley, Jatropha molíssima (Pohl) Baill. e Cnidoscolus phyllacanthus (Mull. Arg.) Pax & L. Hoffm., as mais representativas no levantamento.

Araújo et al. (2010) realizaram levantamento florístico do estrato arbustivo-arbóreo em três áreas contíguas de Caatinga no Cariri paraibano, na Estação Experimental Bacia Escola/UFPB, município de São João do Cariri, PB Nordeste do Brasil. O experimento consistiu em três áreas de 3,2 ha, tendo sido amostradas 30 parcelas (10 m x 10 m) por área, em três transectos paralelos, distando 20 m entre si. As famílias com maior número de espécies no estrato arbustivo-arbóreo foram Cactaceae e Euphorbiacea e as espécies que foram comuns nas três áreas, foram: Aspidosperma pyrifolium, Croton blanchetianus, Poincianella pyramidalis, Jatropha mollisssima, Malva sp., Pilosocereus gounellei, Spondias tuberosa e Opuntia palmadora.

Em Monteiro, Paraíba, Pereira Júnior, Andrade & Araújo (2012) desenvolveram uma pesquisa para investigar aspectos florísticos e fitossociológicos de uma área de Caatinga conservada e encontraram nesse levantamento 3.495 indivíduos, distribuídos em 14 famílias, 26 gêneros e 37 espécies. Os resultados da pesquisa indicaram que Caesalpinia pyramidalis Tul. (Fabaceae) apresentou a maior frequência e maior dominância enquanto Croton rhamnifolioides Pax & Hollm. (Euphorbiaceae) apresentou a maior densidade e o maior índice de valor de importância e cobertura.

Sabino, Cunha e Santana (2016) avaliaram as diferenças florísticas e estruturais entre dois fragmentos contíguos de Caatinga sujeitos a intervenções antrópicas na Paraíba. Foram alocadas 25 parcelas de 20 m × 20 m, em duas áreas (A e B) e medidos todos os indivíduos com circunferência ao nível do solo ≥ 10 cm e com altura ≥ 1 m. A área A apresentou 2.226 indivíduos, 21 espécies, 21 gêneros e 11 famílias. A área B, 1.930 indivíduos, 17 espécies, 16 gêneros e 9 famílias.

No estado do Ceará, Araújo et al. (1998) caracterizou a composição florística da vegetação de carrasco do sul do planalto da Ibiapaba em Novo Oriente, Ceará, que ocorria em Areias Quartzosas profundas. Foram coletadas 184 espécies, incluindo ervas, cipós, subarbustos, arbustos e árvores, distribuídas em 52 famílias.

No mesmo estado, Lemos e Meguro (2010) estudaram a composição florística da Estação Ecológica de Aiuaba, onde coletaram 183 espécimes, pertencentes a 45 famílias, 113 gêneros e 160 espécies. Deste total, três táxons foram propostos como espécies novas para a ciência. As famílias mais ricas em número de espécies foram Fabaceae, Euphorbiaceae, Malvaceae, Bignoniaceae e Convolvulaceae, as quais responderam por 53,75% do total das espécies.

No estado do Rio Grande do Norte (RN) existem trabalhos de natureza florística em menor número que aqueles encontrados para o estado de Pernambuco (Bessa e Medeiros, 2011 entre outros). Até outubro de 2015 foram publicados 30 trabalhos, dos quais cinco eram dissertações, 24 artigos em periódicos e um capítulo de livro. De todos os trabalhos analisados, 96% foram desenvolvidos nos últimos dez anos e em sua maioria (80%) foram artigos publicados em periódicos (MOURA et al., 2016).

Bessa e Medeiros (2011) realizaram um estudo florístico e fitossociológico em fragmentos de Caatinga com estados de conservação diferenciados. Em duas áreas de estudo os autores encontraram: Área I – 113 indivíduos, todos vivos distribuídos em 09 famílias, 09 gêneros e 12 espécies; Área II – 279 indivíduos, dos 273 vivos distribuídos em 08 famílias, 10 gêneros e 13 espécies e seis mortos que ainda se encontravam em pé. No total foram catalogados 392 indivíduos, distribuídos em 10 famílias 19 gêneros e 21 espécies e sendo 04 dessas espécies comuns as duas áreas.

Em Assentamentos da Reforma Agrária localizados nos municípios de Assú e Carnaubais, ambos no RN, o Projeto Vale Sustentável em parceria com o Programa Petrobras Socioambiental, executou inventários da vegetação em Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD’s) do Estado do Rio Grande do Norte (SOUZA E ALMEIDA, 2015). No levantamento foram registrados 365 indivíduos, distribuídos em 10 famílias e 16 espécies. As famílias botânicas mais representativas em número de espécies foram Fabaceae (5) e Euphorbiaceae (3), enquanto as demais famílias apresentaram apenas uma espécie cada, contabilizando-se 8 espécies ao total.

Referências

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12 de julho de 2021. Visualizações: 876. Última modificação: 12/07/2021 08:27:56